Azulejos “à portuguesa”

O Venturoso entrou pelo Alcazar de Sevilha dentro, e de imediato olhou em retorno para as paredes do salão, que brilhavam á força da luz das velas. O seu rosto, maravilhado, expressava a mais profunda admiração pelo que via.

Isabel, a seu lado tocou-lhe no braço inquirindo “mi esposo?”. “ Que maravilhas são estas?” perguntou “que brilham como se tocadas pelo sol?”. Sorrindo, Isabel respondeu “son losas mi esposo”. “Como?

São azulejos”. O Venturoso, inebriado com o que via decidiu levar esta imagem e revestir o seu palácio com este brilho do sol. Chamou os maiores artesãos que, com a riqueza de que dispunha provenientes dos 4 cantos do mundo, expandiram a arte de azulejos muito além do que os artesãos árabes originais tinham feito, e desenvolveu uma característica portuguesa que todos se recordam como nossa.

Son losas mi esposo”. D. Manuel I introduzia assim em Portugal a arte da azulejaria, que, com o tempo tornou-se uma maneira de contar histórias, e de contar a nossa história, entrando na iconografia do que representa ser Português.

Desde os padrões, aos tons, ao cíclico azulejo azul, com barras, sem barras, com imagem, com expressão, em quadriculado, desenvolveu-se esta arte que ficou, apesar de originada no Norte de África, associada a Portugal.

Com a introdução do barroco, a azulejaria assume a maior expressão na cultura portuguesa, revestindo desde salas, salões, cozinhas, jardins, todo o espaço, substituindo a pintura, os frescos e todas as formas de expressão gráfica na arquitectura.

Ao longo dos anos a arte da azulejaria ganhou mujltiplas expressões na nossa cultura, desde o seu objectivo primário (revestimento de superfícies arquitectónicas), a um objectivo de divulgação imagética (com cenas comemorativas, e temáticas incidindo sobre a herança cultural do local), a, finalmente, um objecto de divulgação cultural.

Os azulejos “à portuguesa”, ganharam nos nossos dias uma posição destacada como forma impactante de divulgar a nossa identidade, promovendo, além do objecto per se, temáticas e imagética evocativas da nossa história, da nossa identidade, do nosso ser.

 O claustro da igreja de São Vicente de Fora em Lisboa

É hoje um objecto e um tema a promover, a preservar, objecto de um conjunto de iniciativas evocativas do que é “ser português”, que, pela sua história, e as suas origens Norte-Africanas, que, de forma quase copiada, passaram a ser portuguesas, integradas na nossa identidade material enquanto nação com quase 800 anos.

1501. D. Manuel I “O Venturoso” entrou no Palácio da Vila de braço dado com Maria de Aragão e Castela, sua esposa, irmã de Isabel, e olhou em retorno, e recordou-se do Alcazar de Sevilha e da frase “son losas mi esposo”. Impante, deu 4 passos isolados e olhando em retorno exclamou: “Tenho o sol em casa”, sorrindo como uma criança. Aquele homem com um mundo recém-descoberto na mão, recordado de esfera armilar nas suas imagens, sorria como uma criança com um brinquedo novo.

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